terça-feira, 1 de dezembro de 2009


“...Essa Negra Fulô...”



Na literatura brasileira a imagem vinculada à sensualidade da escrava negra é extremamente recorrente, quando há uma referencia a uma escrava culta, educada e que toca piano, remete a uma escrava branca no romance A Escrava Isaura de Bernardo Guimarães, a literatura clássica e logo considerada canônica coloca a escrava negra como a detentora de sensualidade a que usa o corpo para conseguir o que quer e escapar dos castigos, isso fica bem claro no poema abaixo de Jorge de Lima.



Essa negra fulô
Ora, se deu que chegou (isso já faz muito tempo) no bangüê dum meu avô uma negra bonitinha, chamada negra Fulô.
Essa negra Fulô! Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá) — Vai forrar a minha cama pentear os meus cabelos, vem ajudar a tirar a minha roupa, Fulô!
Essa negra Fulô!
Essa negrinha Fulô! ficou logo pra mucama pra vigiar a Sinhá, pra engomar pro Sinhô!
Essa negra Fulô! Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá) vem me ajudar, ó Fulô, vem abanar o meu corpo que eu estou suada, Fulô! vem coçar minha coceira, vem me catar cafuné, vem balançar minha rede, vem me contar uma história, que eu estou com sono, Fulô!
Essa negra Fulô!
"Era um dia uma princesa que vivia num castelo que possuía um vestido com os peixinhos do mar. Entrou na perna dum pato saiu na perna dum pinto o Rei-Sinhô me mandou que vos contasse mais cinco".
Essa negra Fulô! Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô! Vai botar para dormir esses meninos, Fulô! "minha mãe me penteou minha madrasta me enterrou pelos figos da figueira que o Sabiá beliscou".
Essa negra Fulô! Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá Chamando a negra Fulô!) Cadê meu frasco de cheiro Que teu Sinhô me mandou? — Ah! Foi você que roubou! Ah! Foi você que roubou!
Essa negra Fulô! Essa negra Fulô!
O Sinhô foi ver a negra levar couro do feitor. A negra tirou a roupa, O Sinhô disse: Fulô! (A vista se escureceu que nem a negra Fulô).
Essa negra Fulô! Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô! Cadê meu lenço de rendas, Cadê meu cinto, meu broche, Cadê o meu terço de ouro que teu Sinhô me mandou? Ah! foi você que roubou! Ah! foi você que roubou!
Essa negra Fulô! Essa negra Fulô!
O Sinhô foi açoitar sozinho a negra Fulô. A negra tirou a saia e tirou o cabeção, de dentro dêle pulou nuinha a negra Fulô.
Essa negra Fulô! Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô! Cadê, cadê teu Sinhô que Nosso Senhor me mandou? Ah! Foi você que roubou, foi você, negra fulô?
Essa negra Fulô!

Até hoje vemos perpetuado o mito da mulata sensual, principalmente na época do carnaval com a imagem da Mulata Globeleza. Em contraponto a mídia de massa não vincula tão freqüentemente a imagem de negras cientistas, intelectuais ou jornalistas,elas são sempre modelos, atrizes ou cantoras . Carolina de Jesus, escritora negra pobre e semi-analfabeta que apesar disso teve dois livros publicados em mais de 5 idiomas é um exemplo deste apagamento.

Pense ... quantas joornalistas negras você já percebeu na tv Brasileira?

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